O suicídio é um problema complexo e devastador e, para além das mais de 800.000 mortes a nível mundial por ano (segundo a OMS – 2021), deixa imensos sobreviventes, marcados por uma dor indescritível, e em todos os níveis das suas vidas, quer social, familiar, pessoal, emocional e mental. E você? Consegue imaginar o seu impacto devastador em quem fica? Este artigo irá explorar essa angústia e mostrar também a importância do apoio a quem fica, para melhor lidarem com a perda e a dor.
O Impacto Emocional e Psicológico: Uma Ferida Aberta na Alma dos Sobreviventes de Suicídio
Para quem é sobrevivente de um ato tão doloroso e inexplicável (e tantas vezes repentino) surge um grande peso e angústia sobre todos os níveis, com as quais lutam diariamente. Para entender este tipo de dor, exploramos também (nesta viagem da empatia) as facetas do problema nos que vivenciam essa experiência traumatizante, pois estas podem gerar uma infinidade de emoções e comportamentos, tais como:
O Peso da Culpa: Será Que Eu Podia Ter Feito Mais?
Uma das sensações mais fortes, na vivência desta dor, é o da culpa (com perguntas e “e se’s” e o seu “eu podia ter feito mais” martelando insistentemente na cabeça). Ao sentirem a sensação da impossibilidade em evitar um suicídio de alguém importante na vida da pessoa, levam à auto-critica (muitas vezes descabida) e intensificam todos os medos e inseguranças no futuro (Pitman, Osborn, King, & Erlangsen, 2014).
Vergonha e Isolamento: As Cicatrizes Silenciosas Do Suicídio
Para além da culpa, pode ainda existir a sensação da vergonha e, o facto da problemática estar associada, por norma a preconceito e discriminação por quem vive com a mesma (na primeira pessoa ou como pessoas que ficaram na dor de uma perda), levando muitas vezes as pessoas que sofrem desta situação ao isolamento e à solidão, agravando os seus quadros psicológicos e emocionais (esta vergonha existe quer com a sociedade em si, como consigo próprias, o que cria um verdadeiro círculo vicioso de sofrimento).
Problemas Psicológicos de Quem Sobrevive a Um Suicídio
A literatura mostra também que este sofrimento aumenta drasticamente a probabilidade para o desenvolvimento de alguns transtornos mentais, como depressão, transtornos de stress pós-traumático (PTSD) e/ou comportamentos suicidas, o que intensifica todo este cenário de sofrimento e desilusão pela vida (Cerel, Jordan, & Duberstein, 2008). E a verdade é que algumas das pessoas, quando lidam com estes problemas, sentem um grande “vazio por dentro” onde tudo parece sem cor e sentido, (perdendo o gosto e prazer pela vida), necessitando de um apoio fundamental.
O Impacto na Rede Social e Familiar: A Reconstrução dos Elos de Afeto em Família
A dimensão da tragédia de uma morte por suicídio (para quem sobrevive), vai além do emocional e psicológico. Tem repercussões sociais (nas famílias e nas redes de apoio do falecido) muitas vezes desestruturando a dinâmica de família, onde (a partir de uma tragédia destas), há necessidade da redefinição de papéis e responsabilidades de cada elemento na reconstrução, depois da perda (Jordan & McIntosh, 2011). Muitas vezes este sofrimento espalha-se na comunidade, entre amigos e colegas de trabalho, sendo algo muito mais generalizado.
Em Portugal (onde as raízes familiares ainda são mais fortes do ponto de vista da tradição cultural e dos laços de proximidade), um suicídio gera um enorme peso para a rede social e é uma causa grave e complexa para a nossa saúde pública (e das famílias e amigos, em geral). Segundo os dados estatísticos do Instituto Nacional de Estatística (INE), os suicídios eram, em 2020, 10,5 a cada 100 mil pessoas (INE, 2021), sendo uma problemática transversal a toda a população.
O Suicídio como Problema de Saúde Pública: A Urgência da Sensibilização Global
A nível global, a temática do suicídio tem levantado vários alarmes como uma causa para a morte a nível mundial, e sobretudo em idades mais jovens (entre os 15 e os 29 anos), superado apenas pelos acidentes de trânsito (WHO, 2021). O aumento das estatísticas vem demonstrar (com evidências claras) a premente necessidade do aumento das medidas, seja ao nível de intervenção psicológica e psiquiátrica, campanhas de consciencialização e medidas políticas que sejam realmente eficazes na redução desta problemática. Um dos principais obstáculos a ser vencido passa pelo estigma da saúde mental que tem um impacto direto nas pessoas que vivenciam e sentem (tanto as que correm risco, como as que sofreram com uma morte) impedindo que esta peçam ajuda por receio de represálias ou não aceitação do círculo social onde vive (Pompili et al., 2013)
Considerações Finais: A Urgência de Mais Visibilidade e Mais Apoio na Saúde Mental para quem Sobrevive ao Suicídio
A dor e a angústia vivida pelo sobrevivente do suicídio é (geralmente) silenciosa, mal compreendida e até desvalorizada (pela sociedade em geral). O impacto multidimensional do suicídio revela a premente necessidade de intervenção especializada, para um apoio concreto. Temos que agir, de forma assertiva, e com foco (seja no contexto familiar, da sua comunidade ou em qualquer outra parte do mundo), em direção à prevenção (para que as taxas diminuam), ao apoio da sua saúde mental (com empatia) mas também na partilha de informação útil que seja acessível para qualquer pessoa. Queremos, juntos, dar visibilidade a todos aqueles que (sozinhos ou perdidos) precisam de saber que (do lado de cá), temos o ouvido e a atenção a que eles fazem jus. Se chegou até aqui, acredite: tem direito a pedir ajuda e (acima de tudo) precisa saber que não está só.
Se precisa de apoio, por conhecer alguém que já passou por isto, não hesite. É essencial pedir apoio, estamos sempre prontos com o auxílio necessário para o apoiar nestas situações de sofrimento. A marcação da sua consulta, ajudará a entender o presente para ter um futuro mais tranquilo