Redes Sociais de Adolescentes: Como Preservar a Privacidade, a Confiança e o Bem-Estar

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Adolescentes e Redes Sociais
Na era digital em que vivemos, as redes sociais tornaram-se parte essencial da comunicação, também (e principalmente) no mundo dos adolescentes.

Contudo, ao vermos a importância do papel das redes no mundo digital dos jovens, somos cada vez mais confrontados com uma preocupação emergente, o pedido dos jovens a pais e aos seus companheiros para terem “acesso às senhas das suas redes sociais” numa espiral de preocupações e ações que visa um excessivo controlo na interação entre eles, mas que poderá ter também diversos impactos e consequências na sua individualidade e (principalmente) nas suas relações mais importantes, para o presente e futuro, do seu ciclo de desenvolvimento individual e interpessoal, ao mesmo tempo em que colocamos em causa todos os preceitos de confiança, respeito e autonomia, (que sempre foram uma necessidade fundamental) numa boa qualidade da sua saúde mental.

Neste artigo vamos abordar algumas questões importantes, sobre o porquê desta “nova norma”, e porque é que ela poderá não ser um padrão saudável, principalmente na perspetiva do adolescente em desenvolvimento, com dicas sobre como abordar esta temática (na família, no seu trabalho profissional ou com a pessoa que ama), promovendo o bom-senso, segurança, confiança e respeito nos laços e ligações.

Confiança e Autonomia nos Relacionamentos de Adolescentes

A confiança e a autonomia são dois pilares em relacionamentos saudáveis (principalmente para os adolescentes) onde a partilha de contas nas redes sociais não faz nenhum sentido. Na verdade, exigir acesso aos perfis de um adolescente demonstra exatamente o contrário: uma grande falta de confiança que enfraquece um laço que devia crescer forte, sólido, mútuo e de total abertura entre os parceiros. Pelo contrário, esta forma de agir promove a fragilidade do vínculo (através do medo de perder ou ser substituído), criando receios, desconfiança e inseguranças, numa espiral sem fim onde um mecanismo de “controlo” acaba por esvaziar e impedir que relações mais fortes se desenvolvam num ambiente de segurança. Os relacionamentos saudáveis são alicerçados pela partilha de experiências, por laços afetivos verdadeiros, respeito, por mais respeito com a liberdade, a singularidade e individualidade de cada membro. Um acesso sem consentimento e/ou obrigatório só destrói e fragiliza aquilo que de mais valioso existe: a confiança na pessoa que se ama e uma relação saudável baseada no respeito pela individualidade do outro.

A Privacidade e a sua Importância na Saúde Emocional

O respeito à privacidade do parceiro, deve ser algo inviolável em qualquer relação. É também fundamental numa relação (entre adolescentes) que está ainda em construção, pois o jovem (quer o mais passivo, como o que controla, ou quer ver “para ver tudo”), terá muito poucas (ou mesmo nenhumas) garantias da sua liberdade, enquanto membro individual, com opções de ser como realmente quer. Todo o mundo tem o direito de preservar os seus segredos (aqueles que necessitam ser partilhados ou não, dependendo das escolhas ou vontade pessoal) nas redes sociais. Ao serem obrigados a compartilhar as suas senhas, gera um desconforto, perda de privacidade (onde as emoções também não estão seguras) e até a criação de ressentimentos com base num mecanismo de controle sobre aquilo que deve ser algo de partilha no seu presente (e, muito provavelmente, no seu futuro também, principalmente no momento onde o trauma inicial deixa marcas nas relações de cada vez com mais dor, sofrimento ou controle da outra parte, replicando uma aprendizagem inadequada que também vai sendo apreendida, quer por quem controla, quer pelo controlado, sendo sempre um perigo o mesmo mecanismo se repetir noutras relações do futuro para qualquer um dos lados). A privacidade, no seu devido espaço, constrói a confiança que necessitamos também para respirar um pouco melhor, num mundo e uma sociedade, que tendem, a deixar menos espaço para o bem-estar da sua mente (que respira melhor ao seu próprio ritmo e privacidade) em si. Ao ser forçado à “transparência” num ambiente inseguro e não confiável, acaba por trazer mais ansiedade do que qualquer outro proveito para um ou ambos membros. É quando esta relação quebra a linha do bem-estar para os membros que faz um clique de luz, pois não é, de forma alguma, “saudável” (principalmente) nos mais jovens.

Como o Controlo Das Redes Sociais Impacta o Desenvolvimento Pessoal do Adolescente

A adolescência é um momento crucial no desenvolvimento da identidade pessoal onde a privacidade desempenha um papel importantíssimo neste percurso individual e particular de cada jovem. É quando o adolescente experimenta a necessidade de exploração de vários espaços e diferentes abordagens ou gostos de modo a moldar a personalidade no adulto que ele vai vir a ser. O controlo por parte dos parceiros inibe, limita ou até mesmo anula essa exploração pessoal da sua identidade com outros grupos e pessoas do seu interesse. As “máscaras” e outros comportamentos pouco naturais que este controlo gera são uma barreira (a todos os níveis), limitando também a sua exploração, autenticidade e conexão com o “seu” caminho individual, e de como o trilhar da forma que se torna (a todos os níveis) mais adequado para o desenvolvimento harmonioso da sua pessoa e individualidade. A identidade precisa, acima de tudo, de se mostrar ao mundo livre de julgamentos e vigilância ou mecanismos que quebram os vínculos de honestidade nas interações. Ao sermos “nós mesmos”, construímos pontes e não barreiras que afastam de laços importantes em relação ao amor (principalmente, mas também à amizade, que também poderá sofrer do mesmo padrão de controle e abuso de uma pessoa, se essa situação não for alterada).

Comunicação Aberta e Honestidade: O Caminho Mais Seguro

Uma comunicação honesta e clara e que parte de ambas as partes num relacionamento são a via mais saudável de superar qualquer situação ou crise e deve ser sempre preferível à tentação (sempre mais fácil) da vigilância, do controle e invasão da privacidade. Encorajar os adolescentes a falar abertamente sobre as suas emoções ou mesmo receios que geram a vontade de exercer este “poder” com a relação são pontos mais importantes do que invadir contas (gerando mais dor do que ajuda em termos de evolução numa relação), o que, quase sempre, indicam inseguranças (que muitas vezes nem sequer são reais, mas uma perspetiva alterada sobre quem está ou nos nossos potenciais de vulnerabilidade como uma ameaça a nossa segurança e bem-estar emocional) para ambas as partes, pois demonstra que “não é” seguro aquilo que eles têm e sentem de um ou de ambos os lados da sua parceria. Promover um espaço aberto a diálogos entre adolescentes ajuda-os a desenvolver estratégias melhores e adaptáveis, seja individualmente ou entre eles. Através desta aprendizagem na vida real, desenvolvem competências que podem usar sempre com as relações que irão criando (no trabalho, nos estudos e com todas as áreas). A confiança, segurança, amor e lealdade serão assim melhor sedimentadas por via de uma comunicação mais assertiva, onde a troca não passa por controlos de um pelo outro, mas antes o diálogo.

Impacto Psicológico da Vigilância nas Redes Sociais dos Adolescentes

A pressão exercida pela invasão e o acesso às redes dos seus parceiros pode causar muito sofrimento nos jovens. A necessidade de um “controlo constante” cria um ambiente de medo, ansiedade e muito stresse. As inseguranças geram “disfarces” com perfis “controlados” que dão sempre o ar de não terem problemas para que ninguém que os veja nos posts ou mensagens ache “falta de confiança no casal”. Quer para o adolescente que quer saber, quer para o que se sente mais pressionado e sem privacidade, todos acabam sempre afetados numa relação sem respeito ou limites adequados. A ausência de limites entre dois “membros” traz fragilidades em todos os níveis, para o desenvolvimento dos padrões de um adulto equilibrado (ao mesmo tempo que, perpétua também esses padrões de comportamentos controladores nos ciclos de relações que virão no futuro). A saúde mental dos jovens fica mais frágil e mais propensa à frustração ou perdas de referências de si (que poderão ser a base também para futuros comportamentos desequilibrados, se esses modelos não forem transformados em algo mais produtivo a nível individual e inter-relacional, ao longo das suas vidas, em todos os aspetos) pois sem as aprendizagens essenciais ao nível do respeito mútuo o presente torna-se sempre mais confuso e incerto (em especial nestas idades).

Conclusão

A insistência de ter acesso à privacidade dos parceiros não é uma atitude saudável. Pelo contrário, este padrão é a prova de desconfianças, da ausência de um relacionamento forte, e seguro que deve assentar em todos os pilares fundamentais (a confiança, a privacidade, o desenvolvimento individual, a boa comunicação e o bem-estar na interação para um pleno desenvolvimento individual na saúde mental, na fase do amadurecimento da sua adolescência.


Incentive os seus jovens para modelos de interações com mais responsabilidade sobre as suas escolhas (a vários níveis) construindo assim uma base para relacionamentos mais autênticos (e também mais equilibrados no mundo real e não no seu espelho online ou virtual), onde o diálogo (para tudo que surja de “desconforto”, insegurança, dúvidas ou mal-entendidos) seja o ponto mais forte no processo.

Para qualquer dificuldade, e se necessitar mais informações, o CIADIP tem equipas com larga experiência na área das relações interpessoais dos jovens que o poderão auxiliar! Fale connosco e agende a sua consulta hoje mesmo.

Dr.ª Karina Martins

Referências Bibliográficas

Anderson, M., & Jiang, J. (2018). Teens, Social Media & Technology 2018. Pew Research Center.
https://www.pewresearch.org/

Lenhart, A. (2015). Teens, Social Media & Technology Overview 2015. Pew Research Center.
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Yau, J. C., & Reich, S. M. (2019). Are the Qualities of Adolescents’ Offline Friendships Present in Digital Interactions? Examining the Features of Adolescent Friendships on Social Media. Computers in Human Behavior, 93, 9-16.

Valkenburg, P. M., & Peter, J. (2009). Social Consequences of the Internet for Adolescents: A Decade of Research. Current Directions in Psychological Science, 18(1), 1-5.

Elhai, J. D., Dvorak, R. D., Levine, J. C., & Hall, B. J. (2017). Problematic Smartphone Use: A Conceptual Overview and Systematic Review of Relations with Anxiety and Depression Psychopathology. Journal of Affective Disorders, 207, 251-259.

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