Sabe aquela criança agitada que não para? Sim! Aquele pequeno ser irritante, com menos de um metro de altura que mexe em tudo, fala alto, corre, salta por todo o lado e que parece pior do que um pónei desenfreado? Ou …, aquela criança que parece fazer de tudo para chamar à atenção, interrompe os adultos, chora por tudo e por nada mesmo quando não parece fazer sentido? Ou…, por fim, aquela com quem falamos e não responde, só porque sim?
Existem crianças que, à primeira vista, parecem deixar qualquer adulto de cabelos em pé. No entanto, será que o(a) menino/menina é malcriado ou hiperativo? Será que este comportamento se manifesta porque os pais não dão educação à criança, não impõem regras ou …, poderemos estar perante uma criança com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA)?
O que é a PHDA?
A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma perturbação do neurodesenvolvimento, onde as crianças apresentam níveis elevados e incapacitantes de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade, em comparação com outras da mesma idade.
Segundo o DSM-V, a PHDA tem uma prevalência estimada em 5% das crianças, maioritariamente do sexo masculino. No entanto, estudos recentes demonstram que os valores podem ser bem superiores, rondando quase os 12% (Xu, Strathearm, Liu, Yang & Bao, 2018). Este tipo de psicopatologia tende a manifestar-se em crianças com idade inferior aos 7 anos e a sintomatologia apresenta-se nos mais variados contextos da vida da criança (casa, escola).
Sintomas da PHDA
Nos níveis de desatenção e desorganização, as crianças apresentam:
- Dificuldade em prestar atenção e ouvir o que foi dito;
- Dificuldade em seguir instruções e terminar tarefas;
- Tendência a perder constantemente objetos.
Nos níveis de hiperatividade-impulsividade, as crianças demonstram:
- Dificuldade em esperar pela sua vez e em respeitar regras;
- Sinais de excessiva atividade e inquietação;
- Incapacidade de permanecer sentados, mexendo-se constantemente;
- Comportamentos intrusivos nas tarefas dos outros.
Formas de Manifestação
Do ponto de vista da sintomatologia, as crianças com PHDA podem apresentar sintomas de três formas distintas:
- Combinada: Desatenção e hiperatividade-impulsividade;
- Predominante de Desatenção;
- Predominante de Hiperatividade-impulsividade.
Cada forma pode apresentar diferentes graus de intensidade: ligeira, moderada ou grave.
Impacto nas Crianças e nos Adultos
Tendo em conta as características das crianças com PHDA, estabelecer ou cumprir regras de conduta e socialização pode ser um desafio tanto para elas quanto para os adultos à sua volta.
Do ponto de vista neuropsicológico, neuroimagens de crianças e adultos com manifestações de PHDA apresentam alterações neurocorticais e neurofuncionais específicas, incluindo os sistemas pré-frontais, sistema límbico, corpo caloso, lobo parietal e cerebelo (Freddman & Rapoport, 2015).
Consequências e Fatores de Risco
Estas alterações podem resultar em dificuldades de aprendizagem, especialmente em temas como português e matemática. Importa referir que essas dificuldades não estão relacionadas com os índices de inteligência, mas com a maturidade do desenvolvimento cerebral.
Socialmente, crianças com PHDA podem enfrentar:
- Dificuldade em fazer e manter amizades;
- Conflitos familiares devido à dificuldade em seguir rotinas.
Na adolescência, os riscos aumentam, incluindo:
- Isolamento social;
- Uso de substâncias (tabaco, álcool e drogas);
- Gravidez na adolescência e comportamentos impulsivos;
- Risco de morte prematura e comportamentos delinquentes.
A Importância da Intervenção
Embora os comportamentos típicos da PHDA surjam na infância, podem atenuar-se ao longo da vida dependendo do tipo de intervenção psicológica, parental e educativa recebida.
Intervenções precoces, especialmente em idade pré-escolar, são essenciais para prevenir muitos dos fatores de risco associados ao crescimento dessas crianças.
14 de abril de 2023 | Dr.ª Cristina Borges
Bibliografia :
American Psychiatric Association. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora.
Faraone, S. V., & Biederman, J. (2016). Can attention-deficit/hyperactivity disorder onset occur in adulthood?. JAMA psychiatry, 73(7), 655-656.
Friedman, L. A., & Rapoport, J. L. (2015). Brain development in ADHD. Current opinion in neurobiology, 30, 106-111.
Moura, O., Pereira, M., & Simões, M. R. (2020). Resenha do livro: Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção.
Oliveira, H. M. A. C. (2020). Experiências de vida de mães com filhos com PHDA (Doctoral dissertation). Xu, G., Strathearn, L., Liu, B., Yang, B., & Bao, W. (2018). Twenty-year trends in diagnosed attention-deficit/hyperactivity disorder among US children and adolescents, 1997-2016. JAMA network open, 1(4), e181471-e181471.