Em cada passo do nosso percurso pela compreensão do Autismo (e por vezes pela angústia do desconhecido), o conhecimento é sempre a primeira ferramenta no processo da construção do bem-estar para cada um e a sua comunidade. E, na Perturbação do Espectro do Autismo, o autoconhecimento do autista e do que o rodeia é essencial para transformar desafios em competências e o sofrimento em superação.
Neste artigo vamos desvendar 10 factos essenciais sobre o Autismo, ajudando a compreender a sua natureza e alguns dos aspetos mais relevantes, num tema fundamental da saúde mental de hoje.
1. Autismo: Quais os Primeiros Sinais da PEA?
Os sinais de Autismo nem sempre são evidentes logo na infância. De facto, eles podem surgir gradualmente e tornarem-se mais claros a partir dos 2 ou 3 anos. Por isso, os pais têm um papel fulcral de atenção ao desenvolvimento infantil, podendo, se tiverem algumas dúvidas ou inquietações, levá-las para o pediatra ou mesmo recorrer a outros profissionais de saúde. Este acompanhamento é fundamental para uma avaliação adequada, permitindo a deteção precoce e intervenções em fases iniciais. O diagnóstico e avaliação (e intervenção mais estruturada com objetivos personalizados para a sua situação) fazem sempre toda a diferença no presente e futuro de uma criança e adulto no espetro do Autismo.
2. O Autismo Desenvolve-se de Formas Diferentes em Cada Pessoa
A PEA manifesta-se de diversas formas em cada indivíduo. Por isso, algumas crianças revelam desde cedo alguns sinais (e por vezes atrasos) no seu desenvolvimento. Outras parecem seguir o seu desenvolvimento típico, mas depois podem demonstrar comportamentos considerados atípicos ou “fora da norma”, num padrão de desenvolvimento mais ou menos convencional. Outros sinais de alerta poderão ainda passar por situações de perda de capacidades anteriormente adquiridas e apresentarem “regressões”, perdendo também, por vezes, capacidades de linguagem que até ali estavam bem assimiladas. É essencial estar atento e conhecer as diversas manifestações possíveis para que nenhuma destas opções e realidades seja ignorada (ou considerada apenas como “fases”) pois pode ser um momento chave na deteção do Autismo na vida de uma pessoa, por todas as áreas e fases da vida.
3. Porque é Tão Importante Uma Intervenção Precoce e Com Base em Evidências Científicas?
Um diagnóstico de PEA deve acontecer o mais cedo possível para melhor eficácia das intervenções que visam melhorar as capacidades (sociais, comunicacionais, cognitivas, motoras e de adaptação comportamental) da pessoa. Uma intervenção abrangente é o caminho e garante um acompanhamento multidisciplinar, envolvendo especialistas nas diversas áreas para resultados mais efetivos e adaptação da intervenção às suas necessidades. Atualmente é aconselhável que o uso de intervenções se baseiem em estudos científicos ou casos já documentados, como uma forma também de gerir resultados e potenciar outras capacidades e a transformação, de dificuldades para competências nos indivíduos com Perturbação do Espectro do Autismo e nas suas vidas no dia a dia.
4. Autismo e as Dificuldades na Interação Social
Muitas crianças ou adultos no espectro autista apresentam mais dificuldades na forma como socializam, mas muitos (se não mesmo todos!) desejam criar amizades e interagir, precisando apenas de auxilio e aprendizagem com ferramentas ou técnicas adequadas para isso. As equipas multidisciplinares com psicólogos, terapeutas da fala, terapeutas ocupacionais e outros especialistas nesta área (com programas escolares personalizados e mais direcionados), poderão fazer toda a diferença no desenvolvimento de novas competências sociais para maior equilíbrio emocional na sua vida (para além da vida social mais funcional com a inclusão e maior bem-estar com os seus iguais ou grupos do seu interesse, sejam eles sociais ou desportivos, por exemplo).
5. Comunicação: O Uso da Tecnologia na PEA
Muitos autistas não desenvolvem a linguagem oral. Nestes casos a tecnologia oferece diversas ferramentas com um impacto transformador. As formas alternativas de comunicação, tais como os Sistemas de Comunicação Aumentativa e Alternativa (SCAA) com aplicações tecnológicas específicas como o Tablet e outras ferramentas do mesmo género (teclados ou imagens), abrem novos caminhos para expressarem-se com total potencialidade. Esta interação pode transformar os seus padrões comunicacionais (dificultando, a comunicação convencional) para outros com mais expressão e total entendimento (pelos interlocutores) naquilo que necessitam dizer ou fazer, reduzindo em simultâneo os estados de ansiedade, isolamento e solidão nestes pacientes e em todos à sua volta.
6. Integração Sensorial e Autismo: Porquê as Diferenças na Sensibilidade?
A sensibilidade sensorial também desempenha um papel importante no dia-a-dia dos autistas. Muitos são demasiado sensíveis, outros têm baixa sensibilidade (ou em momentos e dias específicos a nível auditivo ou com outras informações), tais como: sensibilidade à luz, sons, sabores, ou toque (nas roupas, superfícies ou cheiros que outros dificilmente percecionam e sentem a diferença). Os estímulos com o ambiente que rodeia a pessoa (tanto ao nível visual, auditivo ou mesmo os outros canais), podem ser sentidos por muitos autistas como “dor” ou desconforto e exigirão maior cuidado na perceção daqueles sinais nos diversos contextos, criando uma estratégia que se adapte melhor ao modo de viver com essa mesma sensibilidade ou mesmo sem a sobrecarregar ou dificultar mais os momentos (nas escolas ou ambientes de trabalho).
7. Autismo e Interesses Muito Focados
É também característico no autismo, o foco muito forte em áreas ou assuntos específicos que variam muito de cada indivíduo. Os autistas podem colecionar uma vasta e pormenorizada informação nas suas áreas preferidas (desde a ciência, à natureza, transportes, super-heróis, banda desenhada, desporto, e muito mais), o que demonstra como a pessoa pode se destacar ao usar todo o seu potencial nesses pontos muito específicos de atenção e como podem a vir a ser brilhantes na vida e em todo o seu trabalho. O respeito e inclusão desses seus gostos são sempre parte do seu caminho para a felicidade, autoestima, independência e, para muitos, mesmo nas carreiras profissionais e a possibilidade de desenvolver e partilhar o seu conhecimento e paixões ao resto do mundo.
8. Como Lidar com a Ansiedade No Autismo?
A ansiedade também surge com frequência nas pessoas com PEA. Este sinal pode manifestar-se em várias fases da sua vida, através de medos, preocupações ou outros problemas ligados à saúde mental. Para além da conversa com os pais e o seu pediatra, é também essencial o apoio e aconselhamento de profissionais mais direcionados (psicólogos, psiquiatras, ou outros), na procura de respostas que podem vir em técnicas de relaxamento ou mesmo outros recursos que ajudem as pessoas a conhecer melhor as suas fragilidades emocionais, através de caminhos personalizados e estratégias ajustadas às suas necessidades e potencialidades de melhoria.
9. A Complexidade do Autismo nos Desafios “Invisíveis”
As pessoas no espectro do Autismo, apesar de demonstrarem muitos sinais no exterior (a nível comportamental e reações a vários estímulos ou mesmo a situações mais comuns no dia a dia) apresentam também algumas dificuldades “invisíveis”, com uma maior dificuldade em interpretar situações, gestos, ironias, piadas ou sarcasmo (por exemplo) devido a um modo mais literal de compreensão, ou de outras subtilezas em diferentes áreas da sua vida. Isto poderá levar, em muitas situações (tanto no âmbito pessoal ou profissional, ou nas mais comuns formas de interação social e convívio com os outros) ao seu isolamento e vulnerabilidade ao bullying (principalmente nos ambientes escolares). Os desafios “invisíveis” precisam, por isso, de ser trabalhados para uma maior proteção e inclusão na sociedade.
10. Os Talentos e a Inclusão de Pessoas com Autismo no Mercado de Trabalho
Muitos adultos autistas podem ter uma vida funcional e também boas opções na área profissional. No entanto, se desempenharem profissões socialmente exigentes (a nível da sua interação) existe uma maior tendência à perda do seu trabalho. Mas, quando inseridas em lugares de trabalho mais adequados aos seus perfis, com rotinas e padrões mais específicos (e que a valorizem os seus interesses), estes mesmos podem revelar-se como verdadeiros líderes ou peças-chave na produtividade das suas equipas com um melhor desempenho e com vantagens a todos os níveis e para todo o sistema e ambiente organizacional. Dar informação, sensibilização e opções é a chave do sucesso na área da inclusão social e laboral.
Conclusão
O Autismo é um espectro amplo com diferentes particularidades que nos levam a conhecer melhor as especificidades de cada pessoa que a ele pertence. Através de um diagnóstico e acompanhamento mais precoce e profissional com base nas evidências atuais é possível obter melhores resultados no seu dia a dia e nas suas conquistas e autonomia ao longo das diversas fases da vida (desde criança ao adulto).
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